TEORIA DO MÉTODO TEOLÓGICO
Como Nasce a Teologia
Ementa: Pretende-se precisar como se processa o ato de teologizar, descrevendo fenomenologicamente como se dá o fazer teológico.
Porque Isto: A Teologia?
1.A fé deseja saber
A pessoa de fé quer naturalmente saber o que é mesmo aquilo que acretida, se é verdade ou não.Quer saber também o que implica tudo aquilo em sua vida concreta e em seu destino.Tal é a definição clássica da teologia: fides quaerens intellectum (a fé buscando entender) É a expressão já clássica de Anselmo(1109) a fé deseja saber, ela busca a luz. Seguindo a mesma linha de Agostinho(IV século) desejei saber com inteligência o que acreditei. O amor é um elemento intrínseco da fé. Quem ama medita, divaga. Alhures afirma: “o amante não se contenta com a atenção superficial do amado”. Citemos igualmente outro grande metodólogo, agora das ciências modernas, Francis Bacon : “ dá à fé o que é da fé “ fidei quae fidei sunt”
Em vão lutará frustra sudaverit” aquele que pretende obrigar os celeste arcanos da religião a se adaptarem a nossa razão.
2. O espírito humano busca incansavelmente conhecer.
Examinemos agora a mesma questão pelo lado sujeito que crê.
Aristótelos afirmou: ‘todo ser humano aspira o conhecimento” . Por isso a teologia pode se definir como “ afé de olhos abertos”. É a fé lúcida, inteligente e crítica.
3. A teologia nasce da fé acompanhada da conversão. Só um ser profundamente transformado pode verdadeiramente ter acesso aos mistérios divinos.
4.A fé é unitária, nos completam nessa complexidade que a fé é fonte, objeto e fim da teologia.de fato da fé compreende:
fides quae: fé palavra, que a fé dogmática
fides qua: fé experiência, que é a fé fiducial.
Fides informata: fé prática, encarnada.
A fé é simultaneamente princípio objeto e objetivo da teologia. E é riqueza de suas múltiplas dimensões. Por isso, entende-se a fé como um ato de total obediência a palavra, como faz Paulo em Romanos 1.5.
A fé vem antes da teologia e tem o primado absoluto sobre ela, como mostra a tradição teológica, nas linhas do “ crer para entender de Agostinho’ e que retornou em seu “ creio para entender”. Podemos afirmar que a teologia é um falar a partir do falar de Deus. Seu objetivo é um sujeito, uma pessoa “ alguém”. Deus é o sujeito eterno da teologia.
O Que Estuda a Teologia e Em que Perspectiva
Para desenvolver a questão do objeto e da perspectiva própria da teologia, partimos da estrutura do saber científico.
O saber científico põe em ação três elementos principais:
o sujeito epistênico, em nosso caso o teólogo.
o sujeito teórico, na teologia, Deus e sua criação.
O método especifico que é o caminho para o sujeito chegar ao objeto visado.
I.Distinção Epistemológica Primária
Devemos partir da distuição clássica entre objeto material e objeto formal de uma ciência.
1.Objeto Material – “o que” é um “corte vertical” delimitando uma região, para delas em seguida se ocupar. Trata-se do “que” de um saber, i.e., matéria prima, temática, assunto, questão.
2.Objeto Formal – “como” é um corte horizontal no objeto material, a fim de captar-lhe em nível ou camada. Aqui temos nos o “que”, nos “como”, i.e.,aspecto, dimensão, faceta, lado, nível, razão específica.
Estrutura do Discurso Teológico Particular
1.O objeto material da teologia. De que trata a teologia? Deus e tudo o que se refere a Ele, i.e., o mundo Universo: a criação, a salvação e tudo mais. Mas como Deus é o ”determinante sobre tudo”, então, qualquer coisa pode ser objeto de consideração do teólogo. Deus, com efeito, pode ser definido como “a realidade que determina todas as realidades”.
Poderíamos falar, com outras palavras, assim: Deus é o objeto “ principal” da teologia; tudo mais é objeto “conseqüencial”. De fato a fé diz respeito em primeiro lugar a Deus, e das demais coisas só por conseqüência , ou seja, por causa de Deus.
2.O objeto formal da teologia. Que é “Deus enquanto revelado”. É o Deus revelado, o Deus da Bíblia, o Deus do evangelho, o Deus Salvador.
Todos os outros objetos da teologia- objetos secundários- são tratados sob a mesma ótica, ou seja, a partir do revelado. E podem ser teologizados na medida em que são relacionados com o Deus da fé, ou seja, enquanto situados sub ratione Deus, “ sob o enfoque de Deus”.
O decisivo num assunto qualquer é sempre seu objeto formal (objetivo), ou, a perspectiva (subjetiva) a partir da qual se encara aquele assunto. é o objeto formal que determina se um discurso é ou não é teológico.
Deus é o sujeito eterno da teologia, já que a teologia é o discurso de Deus sobre o ser humano e não o discurso do ser humano sobre Deus, este último é conhecido como “ teologia filosófica”, e não teologia cristã, que é o discurso da palavra de Deus e não simplesmente da fé subjetiva dos fiéis.
OS NOVOS ENFOQUE TEOLÓGICOS
São 5 os principais enfoques teológicos que marcam presença no atual cenário teológico, as quais buscam integrar em seus discursos um horizonte globalizado:
1.O enfoque da libertação. A teologia da libertação(que trata dos problemas sociais)
2.O enfoque feminista. Teologia que vê a fé e o mundo a partir da ótica da mulher.
3.O enfoque étnico. É a teologia inculturada a partir da ótica negra, indígena e asiática.
4.O enfoque inter-religioso. É um teologizar desafiador que busca o diálogo entre as religiões
5.O enfoque ecológico. É toda questão teológica concernente a vida, natureza e todo cosmos em seus mútuos relacionamentos.
Contestar que Deus não pode ser substituído por libertação, ou outro tema qualquer é confundir objeto material com objeto formal, e não caracterização de ilegitimidade do tema.Deve ficar claro porém que tais enfoques de modo nenhum substituem o enfoque originário da teologia , que é pensar tudo “ à luz da fé” . são enfoques secundários que se somam ao primário, apóiam nele, o desdobram e, de todos os modos, se articulam sobre ele e com ele. A teologia pode ser feita a partir de qualquer perspectiva, desde que o foco esteja no ponto mais originário, ou seja, “ a partir da fé”, ou a partir do Deus de Jesus Cristo.
A RACIONALIDADE DA TEOLOGIA
A razão não é só a razão formal (lógica) ou a empírico-formal(científica) existe também a razão discursiva em geral, a que exibe razões várias para se explicar: argumentos, raciocínios, provas de diversos tipos, seja necessitantes, seja convenienciais.
A Distinção Entre “ intellectus” e “ Ratio” em Teologia.
1. Intellectus fidei é o intellectus, enquanto função originária e originante do pensar, que está em operação no campo da fé. Essa atitude fundamental constitui precisamente o intellectus fidei. Este testemunha que a fé possui sua evidencia, sua luz e inteligência específica. A fé tem seus próprios olhos. A fé aparece aí como saber, experiência, gnose, sabedoria, amor.
2.Ratio fidei é a fé feita razão, melhor ainda, feita razões, é isso precisamente teologia. Ela nasce do intellectus fidei, para tornar-se, em seguida, a ratio fidei.
Do mesmo modo como se distinguem inteligência e razão, assim também importa distinguir fé e teologia, fé e razão, assim também importa distinguir fé e teologia, fé e razão, mais precisamente inteligência da fé e razão da teologia. Distinguir, sim, mas para unir. Pois se trata de momentos diferentes de um mesmo processo. Em metáfora, Castro Alves destaca a pomba mística fé da águia da razão.
Hermenêutica em Teologia
Passando agora à teologia, digamos que sua razão própria também possui uma constituição hermenêutica. E isso num duplo sentido. É hermenêutica, em primeiro lugar, porque trabalha os textos da Bíblia. É hermenêutica no sentido estrito. Nessa linha, a teologia como hermenêutica procura a verdade absoluta dos oráculos proféticos, mediação da revelação. Todo seu esforço racional neste caso consiste em interpretar corretamente a palavra de deus. Mas, como particularidade própria, a teologia não precisa perguntar, como fazem as outras ciências humanas: Será que tal sentido intencionado é verdadeiro? Pois ela daria já por assentada, de antemão, no âmbito da fé, a verdade do oráculo divino. As questões que ficam para a teologia e que ela tem que enfrentar são só duas:
1.foi Deus mesmo que falou isso?
2.O que ele quis mesmo dizer com isso?
Mas a teologia é hermenêutica também num segundo sentido: porque interpreta sempre de novo a tradição viva da fé em função dos tempos.
TEOLOGIA É CIENCIA
Que é teologia? Na definição de agostinho é discurso sobre Deus. Mas nem sempre o discurso sobre Deus tem conotação científica. O que nos interessa aqui é saber se a teologia é ou pode ser ciência. Teologia é ciência partindo do princípio que a ciência é um conceito analógico. Ora, o que a teologia pode ter(e de fato tem) em comum com as outras ciências é o modelo formal, caracterizando pelos três traços seguintes:
1.Criticidade
Assim como toda a ciência, a teologia é um saber crítico, ou seja, um saber que opera sobre si mesmo, que é consciente de seus procedimentos. A teologia é, portanto, um saber edificado sobre a análise crítico-metódica das verdades da fé.
2.Sistematicidade.
Toda ciência cria um corpo de saber. Tal corpo é unificado segundo princípios de estruturação interna, para formar uma arquitetura teórica coerente.
Pela sua posição original” pística” a teologia não busca criar de fora sistemas explicativos para depois aplica-los ao ministério, mas antes procura refazer teoricamente a estrutura interna do próprio ministério. Fá-lo através de sistema de sentido que tenham uma capacidade máxima de saturação noética. Veremos como, em teologia os pontos de fuga desses sistemas são sempre numerosos, devido a transcendência de seu objeto. Queremos dizer que o sistema de compreensão que melhor explica o ministério cristão é também o mais científico do ponto de vista teológico.
3.Dinamicidade.
Nas ciências hermenêuticas a dinamicidade é ainda mais acentuada. Pois as organizações de sentido que buscam saturar explicativamente o campo próprio de estudo se revelam sempre curtas. Daí as contínuas retomadas de explicação no curso das pesquisas históricas.
Assim também ocorre analogamente com a teologia. E mais ainda com ela. Pois se há uma característica científico-formal que mais convém à teologia é esta. Isso por uma razão dupla:
O horizonte de mistério ou transcendência de seu objeto; e protensão escatológica da verdade divina pelo fato de a revelação plena”apocalipse” ser um evento decididamente parusíaco.
Tudo isso dá à teologia um dinamismo extremo, sem paralelo com qualquer outro discurso. Por isso a teologia continuamente faz e refaz suas estruturações racionais, procurando avançar o quanto pode. Daí o dilúvio de discursos e produções teológicas, como a ameaçar submergir o mundo(jó 21.25).
A teologia é ciência na medida em que realiza a tríplice caracterização formal de toda ciência, que é a de ser crítica, sistemática e auto-amplificativa.
Falando em geral, a racionalidade própria da teologia, enquanto “ ciência humana’ , é de tipo hermêutico: ela procura compreender, de modo mais exaustiva ou “ saturado” possível, a palavra de Deus ou o sentido da fé, primeiro do texto bíblico e, em seguida, à luz deste, do “ texto da vida” .
BIBLIOGRAFIA
TEORIA DO MÉTODO, Editora vozes clóvis boof
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