sábado, 12 de junho de 2010

O Reino de Deus

A palavra Reino de Deus vem do grego Basileia e significa um governo teocrático.No Novo Testamento, no entanto se reporta ao tema central da teologia de Jesus nos sinópticos.
Os judeus esperavam um reino politico, mas Jesus disse que o seu reino era um reino de justiça, gozo e paz.
Eles esperavam um reino mais rico que o reino de Salomão, mas Jesus disse no sermão do monte que os pobres são fortes candidatos ao reino de Deus.
Eles esperavam um reino de guerra, Jesus ensinou a não revida. Eles esperavam um reino de grandeza, Jesus disse que o reino de Deus é dos pequenos, e quem quiser ser grande será pequeno no reino. Mt 5
Eles esperavam um reino sectarista, mas Jesus disse que muitos viriam de longe para assentar na mesa do reino de Deus e muitos que se intitulam detentores do reino seriam lançados fora do reino.
Eles esperavam um reino de aparência, Jesus não olha a aparência do homem e ensina que o reino é como o grão de mostarda,quase invisível, mas cresce sem a percepção de como cresceu. O próprio Jesus foi subindo como raiz de uma terra seca, não tinha parecer e nem formosura e olhando para ele, nenhuma beleza o víamos para que fosse desejado.
Os judeus esperavam um reino de orgulho humano, João Baptista preconiza em sua mensagem que o machado deste reino vem para cortar o orgulho que herdamos de Adão e sua arrogância que buscou ser igual a Deus pela não obediência.
Eles esperavam um reino litúrgico nos moldes tradicionais, Jesus ensinou um reino profético com poder de transformar o ser humano.
Eles esperavam um Rei montado num cavalo branco de guerra, ele veio montado num jumento e lamentou o desprezo que Jerusalem teve pelo o evangelho da paz que ele trouxe.
Eles esperavam um reino religioso, Jesus disse: nem todo que professa a religião entra no reino de Deus, mas aquele que obedece a minha vontade.
Com essa singela reflexão bíblica e teológica, pergunto eu:
Como a Igreja do tempo presente espera o reino de Deus?

quinta-feira, 3 de junho de 2010

APOLOGÉTICA x DIALÉTICA

CONFLITO ENTRE PRÁTICAS E TEORIAS HERÉTICAS

A história da Igreja está permeada de conflito entre práticas e teorias heréticas. A palavra heresia vem termo grego “airesis” que significa escolher facção ou seita e que o Apóstolo Pedro define como abandono da verdade religiosa.
A Igreja medieval no afã de combater heresias procurou manter sentinela para resguardar e preservar os princípios doutrinários que lhes era conveniente. Ela não mediu esforços para mobilizar tropa de choque com vistas a patrulhar e coibir possíveis tendências ideológicas que ameaçassem abalar sua estrutura. Santa inquisição` que deveria se chamar diabólica inquisição, noite de São Bartolomeu e ``caça as bruxas`` foram atitudes heréticas bem conhecidas praticadas pela Igreja. Ocorreu que, essas atitudes heréticas foram instituídas para inibir teorias heréticas.
Aqui estamos diante de um conflito, pois se de um lado a Igreja se preocupou em combater certas tendências, fazendo-as ao estilo sórdido daquela frase bem conhecida ``os fins justificam os meios``. Por outro lado as práticas heréticas não foram combatidas na mesma intensidade com que foram combatidas as teorias.
Em nome da ortodoxia tudo era válido: matar inocentes, torturar, usurpar do privilégio eclesiástico para aviltar os fracos e excluídos, explorar incautos em benefício próprio e usar o nome de Deus em vão para amedrontar adeptos mantendo-os reféns de supertições esdrúxulas para fortalecer o sistema paroquial.
Satanizar situações para tirar proveitos escusos e amedrontar congregados com pretextos infundados, fazia parte do mais forte aparato da Igreja. Inclusive a forma com que a Igreja formulou a doutrina do inferno, i.e., um caldeirão de fogo e enxofre, se tornou um ``negócio da China``. Bastava pagar e o cristão ficava livre do caldeirão.
A ética do cuidado, respeito para com o próximo e as questões sociais não eram importantes, importante era preservar a ``ortodoxia`` a qualquer custo.
As instruções mais sagradas ensinadas por Jesus sobre a ética e a dívida impagável que temos para com o próximo eram negligenciadas em nome
da preservação do credo. E todo esse zelo era mantido por meio de sanções ``anti-heréticas``.
Para uma reflexão a esse respeito, principalmente no âmbito evangélico hodierno, é preciso não ignorar os erros cometidos no passado por aqueles que se diziam detentores da verdade. Esse preâmbulo histórico pode com muita propriedade nos fazer convergir para uma nova atitude diante dos problemas que afligem a Igreja, além de nos alertar para o perigo de combater ``tendências heréticas`` com atitudes heréticas.
Quando deixamos de fazer o bem com pretexto de preservar a ortodoxia, caímos no mesmo pecado do Sacerdote e do Rabino que ao se depararem com o necessitado no caminho para Jericó passaram de largo. Mas o Samaritano que era considerado herege deu a maior demonstração de piedade e temor do Senhor. Quando falamos em nome de Deus para reforçar nossos sistemas ou para garantir nossos interesses e satisfazer nossas manias e crendices, estamos categoricamente usando o nome de Deus em vão, não observando o Art. III do código mosaico.
Quando usamos textos isolados para defender protocolos litúrgicos ou doutrinas pré-concebidas sem o verdadeiro respaldo bíblico, combatemos ``heresias`` com desonestidade, cometendo heresia.
Quando tentamos manipular as pessoas ao nosso bel-prazer ou sobrecarregar alguém com pretexto de que devemos carregar nossa cruz, estamos praticando injustiça.
Quando ameaçamos adeptos ou congregados, quando fazemos acepção de pessoas, ou alijamos pessoas do nosso convívio estamos praticando o sectarismo, atitude herética mais combatida por Jesus.
Quando nossas práticas não passam nem por perto daquilo que pregamos ou ensinamos, somos hipócritas, portanto heréticos. Quando temos tudo e jamais nos preocupamos com os que nada têm, somos egocêntricos, anti-sociais, individualistas e neoliberais no sentido mais pejorativo da palavra.
Quando usamos dois pesos e duas medidas, sacramentando alguns e aliviando outros, estamos praticando injustiça.
Quando priorizamos as questões periféricas em detrimento das essências tornamo-nos pequenos, mesquinhos e covardes por não encararmos os grandes desafios que Deus nos confiou. Ao refletirmos sobre tudo isso chegamos a conclusão que o termo heresia é muito mais complexo e muito mais abrangente do que aquele esposado em inúmeros livros pertinente ao assunto. Concluímos ainda que, não podemos combater tendências pecaminosas por meio de práticas pecaminosas.
Jesus disse: aquele que me ama guardará meus mandamentos e meu Pai o amará e viremos para ele e faremos nele morada. Esses mandamentos estão em duas esferas: a vertical, i.e., os deveres para com Deus e a esfera horizontal, que são os deveres para com o próximo. A omissão ou a não observância de qualquer uma dessas esferas nos condenará para a mesma fogueira, da qual muitos hereges foram queimados.

Pastor Jesiel Padilha de Siqueira